Tomoko Matsuoka
Eu não teria usado essa cor do mais louco espetro de cores - um amarelo berrante que assumia uma tonalidade esverdeava quando a luz incidia nela em um certo ángulo. Mas ali estava, em contraste óbvio com a capa vermelho escuro do meu diário, o adesivo de uma rosa amarelo brilhante de uma criança. De todos os presentes que eu já tinha recebido, esse tinha mais valor para mim do que muitos outros. Recordando o acontecido, não consigo lembrar o que minha irmãzinha disse que me deixou tão chateada. Só me lembro que ela estava reclamando e eu a repreendi severamente. Não tinha chegado ao ponto de enumerar todos os males que a criança mais desafortunada do mundo talvez estivesse sofrendo naquele momento, mas quase. Depois de exigir que pedisse desculpa, voltei a me debruçar no meu livro. Passados alguns momentos de silêncio, ouvi alguém remexendo. Recusei-me a levantar os olhos. Queria que a minha irmãzinha sentisse a totalidade da minha justa indignação. Deixa ela ficar de molho, pensei. Continuou o barulho de alguém remexendo. Eu queria ficar quieta, mas não conseguia evitar me questionar no que ela estaria tão empenhada. Passados mais alguns minutos ouvi barulho de passos atrás de mim. Depois pararam e fez-se silêncio. Recusei tirar os olhos do meu livro, mas, pelo canto do olho, vi sua mão empurrar um envelope para cima da mesa ao meu lado. Depois ela deu meia volta e saiu da sala correndo. Curiosa, abri o envelope. Algo incrivelmente amarelo caiu no meu colo. Era um adesivo de uma rosa. Virei do outro lado e, com a letra de uma menina de cinco anos, dizia “Desculpe. Eu te amo.” Para a economia de troca de uma criança em idade pré-escolar, adesivos são algo precioso. E esse não era qualquer adesivo. Considerando que, na maneira de pensar de uma criança, quanto maior melhor, e se for brilhante melhor ainda, esse grande adesivo brilhante de uma rosa, que tinha caído no meu colo, deveria certamente ser o melhor da sua coleção. Fiquei ali assombrada por um momento com a sua capacidade ilimitada de me amar, apesar do meu egocentrismo caprichoso. Fui procurá-la, dei-lhe um abraço e pedi desculpas.
© A Família Internacional
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