Laila Enarson Eu morava em Gâmbia, no oeste da Àfrica, quando fui com meu filho Chris, na época com cinco anos, em uma viagem a uma vila chamada Sintet, onde nosso grupo de voluntários da Família Internacional ajudava na construção de uma escola. As façanhas contadas pelos meus colegas que voltavam de lá sempre me fascinavam. Por isso, quando ouvi que uma equipe faria uma viagem de um dia e meio ao vilarejo, aproveitei a chance. Durante boa parte da viagem, tudo que ouvi foi a voz do meu filho cheia de entusiasmo: “O que é aquilo? Mamãe, olhe! Pode tirar uma foto de mim em cima daquele cupinzeiro?” A estação das chuvas estava começando a transformar a savana da África Ocidental numa linda paisagem verde. A região é de uma beleza encantadora, combinando colinas, arrozais, coqueiros e lagos. Vê-se os agricultores trabalhando a terra com tranquilidade. Ao longo do caminho, desfrutamos os deliciosos pratos típicos da região, exploramos um pântano cheio de enormes cupinzeiros e baobás gigantescos com troncos às vezes mais grossos que nosso carro. Quando tomamos a estrada de chão ladeada de cajueiros que dá acesso a Sintet, vimos uma multidão reunida na escola. Dois dos nossos voluntários, Joe e Richard, haviam chegado antes de nós e já estavam trabalhando, orientando os demais. As crianças da vila cercaram nosso jipe com seus lindos sorrisos. Mal Chris desceu do carro e elas o cercaram e foram lhe mostrar tudo. As outras crianças brincavam com carrinhos feitos de garrafas plásticas, solas de borracha de chinelos quebrados e pauzinhos. Com a ajuda delas, Chris logo arrumou um para si, o qual empurrava por sobre os formigueiros e poças de lama, enquanto um grupo de meninos corria atrás dele. Sem eletricidade, os moradores se recolhem assim que escurece. E foi o que fizemos, em nossa pequena barraca, sob o céu estrelado. Nosso segundo dia em Sintet foi igualmente divertido. Preparei o material para a aula que ia ministrar às crianças da vila e meu pai me ajudou a encontrar um lugar calmo e quieto em frente a um baobá. Cantamos umas canções e lhes contei a história da Criação usando um flanelógrafo (algo que para aquelas crianças é um recurso de alta-tecnologia). Depois, repassamos algumas coisas básicas que elas têm aprendido na escola. Chris fez um excelente trabalho como assistente. Depois, as crianças nos levaram para os campos, onde nos mostraram vários macacos grandes brincando e uma cobra enorme pendurada bem alto no galho de uma árvore. Elas também nos serviram uma fruta vermelha e amarela em formato de lua que nunca havíamos visto, chamada tao. Para “colher” a fruta, as crianças subiram num pé de tao enorme e ficaram se balançando nos galhos mais altos. Logo antes de começarem a se balançar, um garoto que tinha ficado no chão me deu um tapinha nas costas e advertiu: “É bom sairmos daqui, senão as frutas vão cair em cima de nós!” Dito e feito. Começou a chover fruta por todos os cantos. Algumas crianças ficaram comigo e Chris até o final de nossa visita. Muitas, no início, pareciam bem endurecidas, por causa das dificuldades que enfrentam todos os dias. Conforme fizemos amizade, vimos que por trás da dureza externa, havia corações ternos, que, como esponjas, só esperavam para ser embebidos de amor. Chris e eu lhes demos tanta atenção quanto podíamos. Algumas até começaram a me chamar de “mãe”, uma demonstração muito especial do quanto significa para elas o amor e a atenção que estavam recebendo. Para mim, foi tão gratificante quanto ver o progresso na construção da escola. O tempo voou e logo estávamos em casa de novo. Minha visita a Sintet foi uma experiência cultural extraordinária e inédita para mim. Mas dividi-la com meu filho a tornou ainda mais especial. Aprendemos muito juntos e vivemos o que muita gente só conhece pelos livros ou TV. Obviamente, não é preciso visitar uma vila na savana africana para ter uma experiência cultural autêntica ou para ajudar os necessitados. Oportunidades assim estão em toda parte! A maioria das cidades modernas é um cadinho de raças, cada uma com algo especial para oferecer. Para fazer amigos, basta apenas um pouco de iniciativa. Adicione um pouco de amor e interesse sincero pelas pessoas, e estará de fato unindo o seu mundo ao de outros. Extraído da revista Contato. Usado com permissão. Photo © 123rf.com
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