Anna Theresa Koltes Era um daqueles perfeitos dias de primavera. Uma brisa gentil, a temperatura amena e o coaxar de sapos à distância anunciavam que chegara a estação e todos à minha volta estavam de bom humor. Mas é muitas vezes em dias assim que Deus tende a nos surpreender com pequenas lições. Naquela manhã, recebi uma carta de um amigo com notícias péssimas o bastante para pôr termo à minha felicidade e a de mais alguns que estavam por ali. De repente, a alegria dos que estavam por perto começou a me irritar. Meu desejo era que fossem embora e levassem o sol com eles. Minha mente estava inundada com pensamentos ruins quando minha vizinha me ligou. “Minha consulta médica foi remarcada para o início da tarde, mas não tenho com quem deixar Valerie. Dá para você ficar com ela até eu voltar?” Foi a última pá de cal sobre o que começara como um feliz dia primaveril. Cuidar de criança? Eu?!?Não tinha a menor intenção de poluir a inocência de uma menina com meu humor estragado. Tentei me esquivar, mas, por fim, aceitei. Tadinha da garota! Em questão de minutos lá estava eu, no apartamento vizinho, estressada e ranzinza. Valerie investiu: “Eu tenho lápis de cor novos!”. Ela estava sorrindo e me obriguei a fazer o mesmo. “Você quer … colorir?” Acenou positivamente com a cabeça e desapareceu por uns instantes, para voltar com uma maleta vermelha carregada com materiais para desenho. Para ser franca, não sou chegada a colorir, mas fazendo de conta de que gostava, ajudei a menina a virar sobre a mesa todo o conteúdo da tal maleta. E assim, ao som de um CD de Tchaikovsky, pusemo-nos a pintar uma mulher com aspecto selvagem e cabelos esvoaçantes multicoloridos. Para minha surpresa, o tempo voou enquanto me deixei envolver pela utopia da música clássica e da arte. Bem, não sei se dá para chamar de “arte”, talvez se aproxime mais de “terapia”. Passadas três horas, havíamos criado algumas obras de arte abstrata, escutado todo o Lago do Cisne e eu havia reencontrado a paz. Com a mente clareada, entendi que mesmo quando são grandes as decepções ou enfrentamos catástrofes, sempre há solução. A que encontrei foi simples, inesperada, refrescante e altamente recomendável. Foto e texto cortesia da revista Contato. Usado com permissão.
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