Dr. Bob Pedrick "Papai, de onde vem a luz?" Billy tinha acabado de acender a luz na cabeceira da sua cama. Agora olhava para o pai com os olhos grandes e um olhar interrogador. Era uma pergunta séria para uma criança de sete anos. O pai respondeu explicando em termos simples que a luz intensa do sol puxa a água do oceano para o céu. Depois cai como chuva nas montanhas. E continuou, descrevendo as gigantescas rodas de água que captam a energia da água corrente e a transformam em correntes invisíveis de energia elétrica. Esta energia passa rapidamente por quilômetros e quilômetros de fio até chegar à lâmpada, a qual quase por magia consegue transformar a força invisível outra vez em luz. Depois de mais algumas perguntas, os olhos de Billy se iluminaram e o rosto se abriu num sorriso de quem tinha compreendido. Tinha chegado o grande momento, mais espantoso do que o milagre da eletricidade. Uma porção dos conhecimentos guardados na cabeça do pai foram transferidos para o cérebro de Billy. Quando nós, os pais, enviamos mensagens verbais que são recebidas e assimiladas pelos nossos filhos, cada um de nós brilha um pouco. Poderíamos chamar este ditoso fenômeno de "acender a lâmpada na cabeça do nosso filho". Infelizmente este tipo de comunicação às vezes entra em curto-circuito. O pai podia ter interpretado a pergunta como outra tentativa de Billy ficar enrolando na hora de ir para cama. Uma resposta como: "Chega de pergunta boba. Você já está acordado há muito tempo", podia ter rapidamente obstruído o circuito e destruído um rebento promissor de interesse pelo desconhecido. Mais importante ainda, teria quebrado outra conexão para verdadeira comunicação entre o filho e pai. É claro que a mesma pergunta em outro contexto poderia ter sido manipulativa da parte da criança, mas a diferença pode ser vista por um adulto alerta. O ingrediente chave deste diálogo sobre a lâmpada foi o fato de Billy querer ouvir o que o seu pai tinha a dizer. Embora isto seja característico do início da infância - quando os pais são a fonte do maior conhecimento e as crianças absorvem novas idéias como um mata-borrão - esta receptividade a informações dadas pelos pais parece diminuir a cada ano que passa. Em vez da nossa sabedoria paterna acender uma lâmpada dentro da cabeça dos nossos filhos, parece que seus ouvidos estão tapados. O que dizemos faz ricochete, parece que eles nem ouvem. Esperamos em vão por uma reação positiva. Quando se encontra a fórmula de destapar os ouvidos dos nossos filhos reduz-se consideravelmente a tensão em muitas famílias. É fácil cairmos na armadilha de reagir a situações na família com ataques verbais contra o valor da outra pessoa. É muito simples explicar às outras pessoas como evitar cair nesta armadilha de darem a mensagem adversa. Agora mesmo eu deixei muito a desejar. Enquanto escrevia isto a minha neta entrou correndo no meu gabinete. "Vô", gritou, "venha ver o cachorro pular um metro no ar para pegar um osso". A minha primeira inclinação foi dizer bruscamente: "Não vê que estou ocupado? Não me incomode". Mas bem antes das palavras saírem da minha boca o assunto deste livro atingiu-me em cheio. Pensei: "Se você não consegue praticar, então não escreva". Jeannie e eu passamos dez minutos bem passados vendo o nosso velho cachorro agir como um filhote outra vez numa reação exuberante à atenção amorosa que lhe dedicou uma criança de seis anos. A minha primeira inclinação para responder: "Você não vê que estou ocupado?" teria sido uma mensagem adversa começando com a palavra "você" e dando a entender que se Jeannie tivesse um mínimo de inteligência teria tido bom senso suficiente para não me interromper. Essa não era de modo algum a mensagem que eu queria dar. Neste caso foi possível e produtivo para mim tomar dez minutos para brincar com Jeannie e o cachorro. Mas isso nem sempre é possível; às vezes as circunstâncias impedem que haja uma resposta positiva ao pedido de uma criança. Num caso assim eu poderia ter dito: "Jeannie, eu agora tenho que terminar este trabalho. Vamos ter que esperar para depois para ver as proezas do cachorro". Jeannie teria ficado desapontada, mas provavelmente teria aceitado estas palavras como uma mensagem afirmativa em vez de como uma mensagem adversa. Eu não teria magoado o amor-próprio de Jeannie, mas apenas a informado das minhas necessidades. Repare que esta mensagem afirmativa começou com "eu" e não com "você". A ênfase é dada à situação e às necessidades daquele que dá a mensagem, e não ao caráter ou à inteligência daquele que a recebe. As necessidades dos pais são importantes, por isso as mensagens afirmativas são um meio útil de destapar os ouvidos das crianças. Em contrapartida, lembro-me de uma situação que aconteceu há vários anos à mesa do jantar, e que envolveu um nível emocional muito mais elevado. Jeff, como muitas crianças, insistia em colocar o copo de leite na beirada da mesa. Vários avisos para ele tirar o copo dali e o colocar num lugar mais seguro só serviram de correção temporária. Estávamos com pressa; nessa noite eu ia falar numa conferência. É claro que o inevitável aconteceu: Jeff estendeu o braço para pegar o pão e o leite entornou sobre o tapete novo. Os meus berros provavelmente foram ouvidos a dois quarteirões de distância. Toda a tensão de um dia longo e cansativo caiu sobre Jeff, que saiu da mesa chorando. "Seu trapalhão idiota!" fui atrás dele gritando: "Por que você não obedece quando eu lhe falo algo?" Olhando para a mesa algo me disse que mais ninguém tinha apetite para terminar o jantar. Por um lado me senti melhor, porque explodindo dei vazão a toda a tensão que tinha acumulado inconscientemente. Ainda assim me sentia culpado - culpado por ter dado vazão à minha ira reagindo exageradamente à imprudência de Jeff, e culpado por ter estragado o jantar da família. Por mais justificativas que eu dava a mim mesmo para provar que tive razão em corrigir o descuido de Jeff, não conseguia aliviar a minha depressão. Mais tarde antes dele ir para a cama coloquei o braço no seu ombro e conversamos sobre o episódio. Aí foi quando pudemos dar atenção e demonstrar respeito pelos sentimentos um do outro. Pedimos desculpas um ao outro e demos um bom abraço. O fim da situação foi bem melhor do que o princípio. Nos anos seguintes, já que Jeff era pequeno o bastante para perturbar o jantar, eu fiquei totalmente convencido de que se pode esperar resultados inevitavelmente destrutivos quando usamos mensagens adversas. Elas arrasam a dignidade da criança. É indiscutível que Jeff precisava ser corrigido naquela noite. O seu descuido e desobediência foram inaceitáveis, e se eu os tivesse ignorado teria lhe prestado um desserviço. Uma reação melhor teria sido: "Estou simplesmente furioso; leite mancha o tapete e dá um trabalhão para limpar". Depois deveríamos ter dado a Jeff a oportunidade de limpar a bagunça. Os comentários de Haim Ginott sobre este assunto, embora tenham sido feitos para professores, se aplicam igualmente aos pais: "Um professor bem informado não tem medo da sua ira, porque aprendeu a expressá-la sem causar dano. Ele aprendeu o segredo de expressar ira sem insultar. Mesmo provocado, ele não chama nomes ofensivos às crianças. Ele não ataca o caráter delas nem ofende a sua personalidade". A idéia adquirida pela criança ao ser corrigida por seus pais nem sempre é a mesma que seus pais queriam dar. Freqüentemente o insulto carregado de emoção que envolve a mensagem é aceito e assimilado. A criança não vê de maneira nenhuma qual era a intenção dos pais. Então nós, os pais, dizemos que a criança deve estar com os ouvidos tapados para não ter ouvido nada. Isto não é exatamente assim porque ela ouviu o insulto ("Mas que pastel!"), ao passo que a mensagem que queremos dar ("Este comportamento é inaceitável".) se perde. As palavras contam Quando a comunicação falha entre pais e filhos, as crianças ficam à deriva num vazio, sem meios ao seu alcance para expressarem idéias e necessidades. A importância de usar palavras corretamente e não incorretamente é reconhecida por Tiago, um dos autores da Bíblia. Ele se preocupava muito com relações entre pessoas e deu grande ênfase à sinceridade. Por exemplo, ele nos aconselhou a sermos "cumpridores da Palavra e não somente ouvintes" (Tiago 1:22). A respeito da comunicação ele disse: "Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar" (Tiago 1:19) Nestas poucas palavras ele resumiu toda a idéia deste capítulo. Tiago começou com um apelo para escutarmos de verdade. Depois advertiu-nos contra falarmos sem pensarmos. O seu provérbio era uma versão mais antiga e mais profunda do ditado popular: "Pense duas vezes antes falar". É um bom conselho, principalmente para pais, quando as coisas ficam tensas e as frustrações aumentam. Extraído do livro " Pais Confiantes", pelo Dr. Bob Pedrick.
0 Comments
Leave a Reply. |
Categories
All
LinksContato Archives
March 2024
|