Robert Peterson
Ela tinha seis anos de idade quando a conheci na praia perto de onde moro. Quando o meu mundo começa a desabar, dirijo uns quatro ou cinco quilômetros até essa praia. Ela construía um castelo de areia ou coisa parecida quando olhou para mim, com seus olhos azuis como o mar, e disse: "Olá". Respondi meneando a cabeça, sem muita paciência para me importar com uma criancinha. "Estou construindo", ela disse. - Deu para perceber. O que você está fazendo? - perguntei, sem dar muita bola. - Ah, não sei. É que gosto de sentir a areia. Boa idéia, pensei, tirando os sapatos. Uma gaivota passou voando. - É uma alegria - disse a criança. - Uma o quê? - Uma alegria. Minha mãe diz que gaivotas vêm para nos trazer alegria. - O pássaro seguiu voando praia abaixo. - Adeus, alegria - murmurei para mim mesmo - olá dor. - Virei e continuei andando. Estava deprimido; minha vida parecia estar completamente desequilibrada. - Como você se chama? - Ela não desistia. - Robert, - respondi. - Sou Robert Peterson. - Eu me chamo Wendy. ...tenho seis anos. - Oi, Wendy. Ela riu. - Você é engraçado. Apesar do meu desânimo, também ri e continuei caminhando. Ainda ouvia a sua agradável risadinha. - Volte sempre seu Peterson, - convidou - teremos outro dia feliz. Depois disso, os dias foram ocupados por outras coisas: um grupo de escoteiros indisciplinados, reuniões da associação de pais e professores, uma mãe doente. Certo dia, o sol estava brilhando e eu lavava a louça. - Preciso de uma gaivota, - pensei enquanto pegava o casaco. Como um bálsamo sempre diferente, a praia me aguardava. A brisa estava fria, mas continuei caminhando, tentando recapturar a serenidade que precisava. Tinha me esquecido da criança e me assustei quando ela apareceu. - Oi seu Peterson, - ela disse. - Quer brincar? - Brincar de quê? - Perguntei, um tanto irritado. - Não sei, você escolhe. - Charadas? - sugeri sarcasticamente. Ela deu aquela risadinha novamente. - Nem sei o que é isso. - Então vamos só caminhar. - Olhando para ela, notei a delicada beleza do seu rosto. - Onde você mora? - perguntei. - Ali. - ela disse, apontando para uma fila de casas de verão. Estranho, pensei, no inverno. - Onde você estuda? - Não vou à escola. A mamãe disse que estamos de férias. Ela bateu papo de garotinha enquanto caminhamos pela praia, mas a minha cabeça estava em outro lugar. Quando parei para voltar para casa, Wendy disse que tinha sido um dia feliz. Sentindo-me surpreendentemente melhor, sorri para ela e concordei. Três semanas depois, corri para a praia quase num estado de pânico. Não sentia vontade nem de cumprimentar a Wendy. Achei que tinha visto a mãe dela na varanda e tive vontade de mandá-la manter a filha em casa. Quando Wendy me alcançou, falei rispidamente: - Olha, se não se importa, prefiro ficar sozinho hoje. Achei que ela parecia mais pálida e sem fôlego do que o normal. - Por que você quer ficar sozinho? - perguntou. Virei para ela e gritei, - Porque a minha mãe morreu! - e pensei, Meu Deus, por que estou falando isso para uma criança? -Ah, - ela disse, - então hoje é um dia ruim. - É, - respondi, - e ontem e antes de ontem, e... ah, vai embora"! - E doeu? - ela quis saber. - Se o que doeu? - Estava irritado com ela e comigo mesmo. - Quando ela morreu. - É claro que doeu! - retruquei, equivocadamente. Cercado pelos meus próprios pensamentos, fui-me embora. Mais ou menos um mês depois, quando voltei à praia, não a encontrei lá. Sentindo vergonha, culpa e admitindo a mim mesmo estava sentindo sua falta, fui até a cabana depois da minha caminhada e bati na porta. Uma jovem senhora com aparência cansada e cabelo cor-de-mel abriu a porta. - Oi, eu disse. - Sou Robert Peterson. Fiquei com saudades da sua garotinha hoje e me perguntava onde ela estaria. - Ah sim, seu Peterson, por favor entre. Wendy falava muito do senhor. Creio que a permiti perturbar-lhe. Por favor me perdoe se ela foi um incômodo. - Não, quê isso. Ela é uma garota muito agradável. - Disse, percebendo subitamente que era o que eu realmente sentia. - Onde ela está? - Wendy morreu semana passada, seu Peterson. Ela tinha leucemia. Talvez não tenha lhe dito. Chocado e sem fôlego, procurei rapidamente por uma cadeira. - Ela adorava essa praia, então quando pediu para vir, não podíamos recusar. Ela parecia muito melhor aqui e tinha muitos ‘dias felizes’, como os chamava. Mas nas últimas semanas ela piorou muito... - A sua voz falhou. - Ela deixou uma coisa para o senhor. ... Se eu ao menos pudesse encontrar. O senhor se importa de esperar um momento enquanto procuro? Mudo, meneei a cabeça, que estava a mil por hora, pensando em algo que pudesse dizer a esta adorável mulher. Ela me entregou um envelope borrado, nele escrito "Seu Peterson", numa letra grande de criança. Dentro havia um desenho feito com cores vivas de giz de cera - uma praia amarela, um mar azul e um pássaro. Justo embaixo estava cuidadosamente escrito: UMA GAIVOTA PARA LHE TRAZER ALEGRIA. Os meus olhos se encheram de lágrimas, e o meu coração que quase havia esquecido de amar se abriu. "Desculpe-me, desculpe-me, desculpe-me," murmurei sem parar, e choramos juntos. O precioso desenho agora tem moldura e está pendurado no meu escritório. Seis palavras - uma para cada ano da sua vida - que falam comigo sobre harmonia, coragem e um amor que não exige nada em troca. Um presente duma criança com olhos da cor do mar e cabelos que nem a areia, que me ensinou o dom de amor.
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Laura Boggess
Quando pequena, eu costumava correr o mais rápido possível com os braços abertos, permitindo ao vento soprar debaixo das minhas asas de mentirinha. Eu era um avião, um pássaro, ou um dragão voando sobre extensos reinos. Quando a lua espreitava na noite escura, essas asas me levavam da minha cama até o céu, em meio às estrelas e por entre cometas incandescentes—as cortinas dos céus se escancaravam para me receber. Eu então encontrava-me com Deus—voando direto para os seus braços e ele me embalava para dormir em seu grande colo. Quando cresci, aprendi os limites do nosso mundo natural. O mundo ficou cada vez menor, e Deus parecia estar a anos luz de distância. Vim a entender que fé é a certeza daquilo que não vemos, e meus sonhos noturnos de infância com um Deus invisível se desvaneceram até virarem uma doce lembrança. Meu conhecimento cresceu cada vez mais, e eu ansiava voltar a ter aquela íntima comunhão de outrora. Alguns anos atrás, fui caminhar com meus dois filhos numa noite em que nevava. Lembro-me de como eles saíram correndo na frente, perdidos naquela brincadeira bruta que só os irmãos conhecem, me deixando para trás com suas gargalhadas. Fiquei ali sozinha, debaixo daquela noite branca e olhei para cima. Era mesmo verdade que eu já havia voado por aqueles mesmos céus, com as bochechas coradas e os olhos brilhando com a luz das estrelas? Quando parei de acreditar que para Deus tudo é possível? Ou melhor, quando a minha imaginação se tornou tão pequena que eu parei de esperar o aparentemente impossível? Quando foi que os meus pés ficaram tão enraizados na crosta terrestre que deixei a gravidade pesar sobre minha ideia de quem é Deus? Talvez tenha sido quando fiz sete ou oito anos. Pelo menos, isso é o que diz a teoria de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo. Ele clama que este é o estágio pré operacional do pensamento, que vai aproximadamente dos 2 aos 7 anos, e é caracterizada pelo desenvolvimento do pensamento simbólico, memória e imaginação—e tudo que permite que a criança se envolva na rica brincadeira do faz de conta. Esse processo de pensamento, baseado na intuição em vez da lógica, faz com que seja difícil entender verdadeiramente a relação de causa e efeito, o tempo e a comparação. Peritos consideram isto uma limitação, mas o meu dicionário define intuição como uminsight de uma verdade que não é percebida pela mente consciente. Para mim isso soa como o ponto em que o Espírito Santo toca minha consciência—me direcionando para este ou aquele lado. O mundo vê isto como limitação, mas eu me pergunto … Quando nosso cérebro alcança esse estágio no qual é capaz de pensar com lógica, será que as estruturas da imaginação em nosso cérebro têm que encolher para fazer espaço para a lógica? Se este for o caso, como é que voltamos a expandi-lo? Como é que nós, gente grande, podemos, depois de termos passado há muito do estágio pré operacional de Piaget, recobrar nossa louca alegria da imaginação? Como posso revisitar aquele lugar no qual o Espírito Santo começa a tocar a minha consciência e me direciona novamente, oferecendo sua intuição e insight? Jesus nos diz em Mateus 18 que a não ser que nos tornemos como criancinhas, nunca entraremos no reino dos céus. Portanto, quem se humilde com esta criança, este é o maior no Reino dos céus, disse. Como seria isso? Como vou até Jesus como uma criança? Recebi uma resposta naquele dia frio de fevereiro—enlevada com aquele riso na neve. Brincando. Mas o que seria brincar no mundo de gente grande? Em seu livro Play: How it Shapes the Brain, Opens the Imagination, and Invigorates the Soul (Brincar: Como isso Modela o Cérebro, Abre a Imaginação e Revigora a Alma*), Dr. Stuart Brown diz que quando nos engajamos em brincar de verdade, nosso senso de autoconsciência diminui e perdemos noção do tempo. Brincar nos permite viver plenamente cada momento. Comecei a praticar brincar, perdendo-me completamente, de pé na janela, observando um peixinho dourado descascar uma semente de girassol. Passar horas arrancando erva daninha na horta parece levar segundos—o cheiro do tomateiro é intoxicante. E quando o sol volta a brilhar na água, deixando uma trilha rosada atrás, sou atraída até a passagem de luz pela água. Brincar me lembra de sentimento de ser criança—inocente, tudo é novidade. Deus está me convidando para brincar sempre que aponta o meu coração para a beleza. Naquela noite na neve, o riso dos meus filhos ecoaram pelas ruas, senti algo me empurrando por dentro. Senti o convite. Mais uma vez, levantei os braços ao longo do corpo—abri minhas asas. Aquela mãe quarentona se permitiu planar em círculos, e deixou o vento soprar debaixo de suas asas de faz de conta. E eu voei. Direto para os braços de Deus. * Brincar é algo diferente para cada pessoa. Que atividades simples e recreativas combinam com a sua personalidade e podem ajudá-lo a se conectar com Deus mais intimamente, e tornar-se como uma criança?
Cortesia de Anchor. Foto por Lesley Show via Flickr.
Tomoko Matsuoka Na aula semanal sobre valores morais, os alunos da primeira série primária receberam como tarefa terminar como melhor lhes parecesse a história da formiga trabalhadeira e da cigarra indolente. A maioria conhecia a fábula de Esopo que conta como a cigarra desperdiçou os meses do verão tocando violino enquanto a formiga dedicou-se com afinco à labuta de armazenar comida para o inverno. Quando o frio finalmente chegou, a formiga trabalhadeira e suas amigas estavam seguras em sua colônia, enquanto a cigarra faminta, procurava sobreviver. A professora pediu aos alunos de seis anos que fizessem um desenho e reescrevessem o fim da história segundo a preferência de cada um, contanto que, em algum momento, a cigarra pedisse ajuda à formiga. Aproximadamente metade da classe julgou a cigarra não merecedora e por causa disso a formiga recusou-lhe ajuda. Os demais alunos contaram que a formiga disse para a cigarra aprender sua lição e lhe deu metade do que armazenara. Mas um garoto levantou e contou a sua versão, segundo a qual, quando a cigarra implorou socorro à formiga, esta lhe deu, sem hesitar, tudo que tinha — não a metade nem a maior parte, mas tudo. Mas não era assim que terminaria a história na visão do menino que, cheio de alegria, prosseguiu com a narração: “E porque a formiga ficou sem comida ela morreu. Mas, aí, isso deixou a cigarra tão triste que ela contou a todos o que a formiga fizera para salvar sua vida e se tornou uma cigarra boa.” Duas coisas me ocorreram quando ouvi essa história. A primeira foi o significado da palavra “dar”, para Jesus. Ele não Se doou pela metade nem nos tachou de “não merecedores”, mas entregou-Se totalmente para que pudéssemos aprender a “ser bons”. Foi somente pelo sacrifício irrestrito de Sua vida que pudemos receber a dádiva da vida eterna, como o que a formiga fez na versão do menino do clássico de Esopo. E tampouco deveria ser o fim da história para nós. Deveríamos, em gratidão, seguir Seu exemplo e nos dedicar de coração a contar a outros a maravilha que Ele fez por nós. A segunda é que aprendi o significado de doar-se completamente. Só damos de fato quando nos custa algo, mas quando a doação é verdadeira, será multiplicada muitas vezes. Artigo da revista Contato. Foto de Wikimedia Commons.
D.B. Berg
Vale a pena ser criança. Na verdade, Jesus disse que “Se não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mateus 18:3) e “Deixai vir a Mim as criancinhas, e não as impeçais, pois das tais é o reino de Deus” (Marcos 10:14). Devemos ser como crianças: amorosas, ternas, possuidoras de uma fé simples, acreditando, com uma fé infantil, e recebendo tudo que o Senhor tem para nós. As crianças são exemplos dos habitantes do Céu, como anjinhos vindos de lá. Recém-chegadas do Céu, entendem a oração e outros assuntos espirituais melhor que a maioria dos adultos. Falam com Deus e Ele com elas. É simples assim. Graças à sua fé pura, simples e infantil, não têm dificuldade nenhuma em obter Sua atenção. Às crianças é concedido serem ricas em fé. A fé é algo natural para elas. Acreditam em qualquer coisa que Deus lhes diz e para elas nada é impossível. O problema com muitos adultos é que têm conhecimento demais. Aprenderam tanto que perderam a fé infantil. Mas existem pessoas com uma fé infantil, que confiam, e fazem coisas todos os dias que os intelectuais descrentes afirmam serem impossíveis. Portanto, seja como uma criança, e qualquer coisa maravilhosa poderá acontecer!
Extraído da revista Contato. Usado com permissão.
— Amanhã cedo, começou a dizer o médico — vou abrir o seu coração…
— O senhor vai encontrar Jesus lá dentro — interrompeu o garoto. O médico virou o olhar, aborrecido. — Vou abrir o seu coração para começarmos a operação — continuou — para vermos até que ponto ele foi afetado. — Mas quando o senhor abrir o meu coração, vai dar de cara com Jesus. O médico olhou para os pais do garotinho, sentados placidamente ao lado do leito. — Depois que eu constatar a gravidade da situação, fecharei o seu coração e o seu peito, e verei como proceder a seguir. — Só que o senhor vai encontrar Jesus dentro do meu coração. A Bíblia diz que é ali que Ele vive. Todos os hinos dizem que é ali que Ele vive. O senhor vai encontrá-lo dentro do meu coração. Para o médico foi a gota d’água. — Eu vou lhe dizer o que tem dentro do seu coração: músculo em mau estado, pouco sangue e vasos enfraquecidos. E vou ver se dá para sarar você. — O senhor vai encontrar Jesus lá também, porque é ali que Ele vive. O médico saiu do quarto. Após a cirurgia, sentado em sua sala, começou a ditar o relatório. “Aorta comprometida, veia pulmonar comprometida, degeneração muscular generalizada. Impossibilidade de transplante ou cura. Terapia: analgésicos e repouso. Prognóstico: …” O médico parou um pouco… “apenas um ano de vida.” Desligou o gravador, mas precisava dizer mais. — Por quê? Perguntou em voz alta. — Por que o Senhor fez isso, meu Deus? Você trouxe este menino ao mundo. Você o fez sofrer assim, e o amaldiçoou para que morresse ainda pequeno. Por quê? O Senhor respondeu-lhe: “O menino, um cordeirinho Meu, não era para ficar no seu rebanho por muito tempo, porque ele faz parte do Meu rebanho e o será para sempre. Aqui, no Meu rebanho, ele não sentirá dor. Você nem imagina todo o consolo que ele vai receber. Um dia os pais dele virão para cá, e eles conhecerão a verdadeira paz, e o Meu rebanho continuará aumentando.” As lágrimas ardiam em seu rosto, mas a ira ardia mais. “Você criou esse menino e o coração dele, mas dentro de poucos meses ele vai morrer. Por quê?” O Senhor respondeu: “O menino é um cordeirinho Meu, e voltará para o Meu rebanho, porque já cumpriu a sua missão. Eu não o coloquei no seu rebanho para perdê-lo, mas sim para resgatar uma outra ovelha que estava perdida.” O médico não conseguia mais controlar as lágrimas. Um pouco mais tarde, foi sentar-se ao lado do leito do menininho, com os seus pais do outro lado. Acordando, ele sussurrou: — O senhor abriu o meu coração? — Abri, respondeu o médico. — O que é que o senhor encontrou lá dentro? — Jesus. Ali eu encontrei Jesus. Respondeu o médico. - Autor desconhecido
Jessica Roberts
Há anos trabalho com crianças e sempre me impressiono com a paixão que têm pela vida, como adoram aprender e como são perseverantes. Sim, perseverança. Pode parecer um pensamento novo, já que as crianças (especialmente as mais jovens) tipicamente têm dificuldade de se concentrarem por muito tempo, o que pode ser atestado por qualquer mãe que já tentou fazer seu filho de dois anos ficar sentado até o fim de uma refeição. Entretanto, há momentos na vida de cada criança em que o desejo inato de se desenvolver a leva a aprender uma habilidade, como apanhar um objeto pequeno com seus dedinhos roliços, engatinhar ou caminhar. Esses aprendizados requerem grande concentração, esforço da parte da criança e muito tempo, comparado ao pouco tempo que ela já viveu. Também exigem bastante fisicamente dos músculos que recém começaram a aprender a coordenação e mal têm força para sustentar o peso da própria criança. Recentemente, quando me mudei para este país, passei por um período difícil de adaptação. Meus amigos e colegas de trabalho de onde eu me encontrava anteriormente tinham se tornado como minha família. Doeu deixá-los e senti falta das “minhas” crianças — os filhos de meus colegas com os quais trabalhava. Tentei me dedicar a novos aspectos do nosso trabalho voluntário, mas senti que não fazia nenhum deles bem. Em um determinado momento, por exemplo, envolvi-me em uma campanha para arrecadar brinquedos e livros para crianças carentes, mas como o início foi fraco, desanimei e tive vontade de desistir. Rafael, o bebê de uma colega, fazia algum tempo tentava engatinhar. A cena se repetia havia semanas: apoiava-se nos braços trêmulos e conseguia ficar de quatro, mas não saía do lugar. Sobre as mãos e os joelhos rechonchudos, o garoto se balançava para frente e para trás, mas não avançava. Ele não conseguia se deslocar para chegar mais perto de um brinquedo que estivesse poucos centímetros fora de seu alcance, por mais que se embalasse de quatro ou se remexesse apoiado na barriga. Quando muito, conseguia empurrar-se para trás, o que o deixava ainda mais longe de sua meta. Certo dia, quando eu cuidava dele, depois de dar tudo de si em vão para andar de gatinhas, olhou para mim com uma expressão de quem estava frustrado e que dizia “Pegue-me no colo”. Eu podia me identificar com suas dificuldades, pois me sentia igualmente frustrada com a minha situação, mas sabia que todo aquele esforço estava fortalecendo seus músculos e lhe ensinando sobre seu corpo. Então eu o peguei, abracei-o, procurei animá-lo um pouco, mas o recoloquei no chão. Ele tinha de aprender a engatinhar por si próprio; eu não podia fazer isso por ele. Com o tempo, ele se tornaria mais forte e pegaria o jeito. De repente, percebi a grande semelhança entre mim e aquela criança. Eu estava tentando aprender algumas habilidades, esforçava-me para dominar o idioma e entender a cultura deste país, e minha reação natural tinha sido olhar para Jesus e dizer: “Pegue-me no colo e me salve de tudo isso!” Mas Ele sabia que aquele tempo de aprendizado, por mais difícil que fosse, me fortaleceria. Por isso, embora Seu amor estivesse sempre presente para me animar, eu deveria me esforçar e perseverar. Aquilo me deu uma nova perspectiva da minha situação. Se aquela criança era capaz de perseverar, eu também seria! E quando ficasse cansada de tentar ou frustrada com a aparente inutilidade dos meus esforços, buscaria em Jesus o amor, o ânimo e força para continuar a aprender as lições que a vida me trouxesse. Rafael agora engatinha todo feliz para lá e para cá e está começando a tentar ficar de pé. Também estou dando meus primeiros passos no aprendizado de certas habilidades e expandindo meus horizontes. Sei que, logo, ambos estaremos de pé e correndo, se simplesmente continuarmos tentando.
Extraído da revista Contato. Usado com permissão.
Aquela menininha sardenta de lindos cabelos castanhos, a imagem da inocência, devia ter seis anos de idade. A mãe estava de bermuda cáqui, uma blusa de tricó azul clara e tênis. Tinha mesmo cara de mãe.
Chovia a cántaros, e a água transbordava pelas calhas de tanta pressa para chegar ao solo. No estacionamento ali perto as bocas-de-lóbo estavam transbordando de tão cheias ou por estarem entupidas. Poças enormes pareciam uns laguinhos perto dos carros ali parados. Todos estavam ali em pé debaixo da marquise ou dentro de uma loja, mas logo à porta. Estávamos esperando a chuva passar. Alguns com paciência, outros irritados porque a natureza bagunçara o seu dia tão atarefado. Eu sempre fico hipnotizado quando vejo chuva. Deixo-me enlevar pelo som e pela imagem dos céus tirando todo o pó e limpando o mundo. Lembranças da minha infáncia correndo e chapinhando nas poças, todo feliz, também vêm à memória, aliviando-me das preocupações do dia. A vozinha dela era tão meiga que quebrou o transe hipnótico no qual eu me encontrava. — Mamãe, vamos sair correndo na chuva. — O quê? — perguntou a mãe. — Vamos sair correndo na chuva! — repetiu. — Não, querida. Vamos esperar amainar um pouco. A menininha esperou mais um minuto e repetiu o pedido, mas desta vez declarando: — Mamãe, vamos sair correndo na chuva. — Mas nós vamos ficar ensopadas, — respondeu a mãe. — Não vamos não, mamãe. Não foi o que a senhora disse hoje cedo, — completou a menininha puxando o braço da mãe. — Hoje cedo? Quando foi que eu disse que podíamos sair correndo pela chuva sem nos molharmos? — A senhora não se lembra? Quando estávamos falando com o papai sobre o cáncer dele, a senhora disse: “Se Deus nos ajudar a passar por isto, pode nos ajudar a passar por qualquer coisa!” Todos ali perto ficaram calados. Só se ouvia o barulho da chuva. Ninguém dava um pio e ninguém saiu dali ou chegou durante os minutos seguintes. A mãe parou um pouco, pensando no que dizer. Algumas pessoas talvez dessem uma risada de tal declaração e chamassem a atenção da criança por estar sendo tola. Outras talvez até ignorassem o que fora dito. Mas aquele era um momento assertivo na vida de uma criança, quando uma confiança inocente pode ser alimentada e transformar-se em fé. — Querida, você está certa. Vamos sair correndo pela chuva. Se Deus deixar a gente se molhar, bem, então é porque precisávamos de um banho. E lá foram elas correndo. Todos ficaram observando, sorrindo e rindo enquanto elas desviavam dos carros e pulavam para não pisarem nas poças. Elas colocaram as sacolas de compras sobre a cabeça só por medida de precaução. Ficaram ensopadas, mas umas outras pessoas cheias de fé foram atrás, gritando e rindo como criancinhas até os seus carros, inspiradas pela fé e pela confiança da mãe e da filha. Desejo acreditar que em algum momento na sua vida, aquela mãe vai se lembrar dos momentos que passou junto com a filha, capturados em fotos coladas no livro de recortes repleto de lembranças queridas — as duas correndo pela chuva, acreditando que Deus as ajudaria a não se molhar. A propósito, naquele dia eu também saí correndo pela chuva. E me molhei. Precisava de um banho! Autor anónimo. Foto: Clare Bloomfield/FreeDigitalPhotos.net
Tomoko Matsuoka
Eu não teria usado essa cor do mais louco espetro de cores - um amarelo berrante que assumia uma tonalidade esverdeava quando a luz incidia nela em um certo ángulo. Mas ali estava, em contraste óbvio com a capa vermelho escuro do meu diário, o adesivo de uma rosa amarelo brilhante de uma criança. De todos os presentes que eu já tinha recebido, esse tinha mais valor para mim do que muitos outros. Recordando o acontecido, não consigo lembrar o que minha irmãzinha disse que me deixou tão chateada. Só me lembro que ela estava reclamando e eu a repreendi severamente. Não tinha chegado ao ponto de enumerar todos os males que a criança mais desafortunada do mundo talvez estivesse sofrendo naquele momento, mas quase. Depois de exigir que pedisse desculpa, voltei a me debruçar no meu livro. Passados alguns momentos de silêncio, ouvi alguém remexendo. Recusei-me a levantar os olhos. Queria que a minha irmãzinha sentisse a totalidade da minha justa indignação. Deixa ela ficar de molho, pensei. Continuou o barulho de alguém remexendo. Eu queria ficar quieta, mas não conseguia evitar me questionar no que ela estaria tão empenhada. Passados mais alguns minutos ouvi barulho de passos atrás de mim. Depois pararam e fez-se silêncio. Recusei tirar os olhos do meu livro, mas, pelo canto do olho, vi sua mão empurrar um envelope para cima da mesa ao meu lado. Depois ela deu meia volta e saiu da sala correndo. Curiosa, abri o envelope. Algo incrivelmente amarelo caiu no meu colo. Era um adesivo de uma rosa. Virei do outro lado e, com a letra de uma menina de cinco anos, dizia “Desculpe. Eu te amo.” Para a economia de troca de uma criança em idade pré-escolar, adesivos são algo precioso. E esse não era qualquer adesivo. Considerando que, na maneira de pensar de uma criança, quanto maior melhor, e se for brilhante melhor ainda, esse grande adesivo brilhante de uma rosa, que tinha caído no meu colo, deveria certamente ser o melhor da sua coleção. Fiquei ali assombrada por um momento com a sua capacidade ilimitada de me amar, apesar do meu egocentrismo caprichoso. Fui procurá-la, dei-lhe um abraço e pedi desculpas.
© A Família Internacional
De Angela Koltes
Em um dia nublado de inverno, fui com alguns amigos passar a tarde na escola para cegos perto de minha casa. Era um daqueles “domingos como todos os outros”, exausta de toda a trabalheira da semana e ansiando o conforto da minha cama quentinha e desejando ficar descansando em casa. Não tinha a mínima vontade de sair; afinal, praticamente todo o mundo estaria passando um tempinho consigo mesmo e tirando o dia de folga. Mas, como já havíamos prometido ir à escola para alegrar e divertir um pouco as crianças naquela tarde solitária de domingo, tínhamos que ir. Nos fins de semanas, a maioria das famílias dos alunos vai buscar os filhos, que passam a semana na escola. De modo que havia algumas crianças naquele domingo, e cada uma delas mostrou como estava feliz por termos ido, nos recebendo com muitas expressões de alegria. Não tínhamos um plano, mas levamos um violão, chocalhos e bongos na esperança de levar um pouco de alegria para seus mundos tão sem cor. As crianças se juntaram à nossa volta, ouvindo a música e tentando entender de onde havíamos vindo e como éramos. Algumas tinham seus próprios instrumentos, e a maioria tem muito talento musical, e nos acompanhou, mostrando entusiasmadamente o que sabia. Em meio a todo aquele barulho e atividade, notei uma garotinha de cabelo curto sentada timidamente longe das outras crianças. Eu me perguntei quem seriam seus pais e por que não haviam vindo buscar uma garotinha tão linda. Fiquei zangada, pensando por que aquela criança viveria cega, impossibilitada de enxergar. Enquanto a observava, a primeira coisa que chamou a minha atenção foi seu sorriso radiante. “Como aquela garotinha, em sua condição tão triste, podia ser tão feliz?” Perguntava para mim mesma. A professora que acompanhou o meu olhar, começou a nos contar a história da garotinha. Seda tinha sete anos e fizera uma operação no cérebro dois anos antes. “Eu podia ver as árvores, os pássaros, o rosto do médico, tudo.” Acrescentou, ao ouvir sua professora, “Mas depois que eu acordei, não podia mais ver nada.” Foi como se uma pedra houvesse caído do alto bem no fundo do meu coração! Não conseguia mais apenas observar a garotinha em silêncio. “Mas eu sou tão feliz!” exclamou, rindo e brincando com as mãos. “Por que você é feliz, Seda?” perguntou sua professora. “Olha”, começou mansamente, “Mesmo que eu não possa mais ver aqui nesta terra, vou poder ver de novo no céu—e mal posso esperar por esse dia.” Fiquei com os olhos marejados, e sabia, ao olhar ao meu redor, que meus amigos estavam sentindo o mesmo que eu. Seda ficou o resto da tarde perto de mim. Ela pegava a minha mão e me guiava pela escola; sentava-se no meu colo e conversava sobre tudo o que ela gosta de comer, cada verdura, legume e fruta, e por quê. Ela descobriu um grande prazer nos sabores e sons ao seu redor. Era como se houvesse esquecido que não podia usar a sua visão. Quando voltei para casa aquela noite, o rosto de Seda não saía da minha cabeça. O que será que aquela menina via no seu mundo escuro que a fazia tão feliz? Depois, quando eu sentia o peso de um dia difícil de trabalho, não importava o que estivesse acontecendo no momento, só de lembrar de Seda, eu sabia que não tinha do que reclamar. Às vezes, os dias escuros pelos quais somos forçados a passar parecem insuportáveis e não vemos nenhum raio de esperança. Batalhamos cada dia ao menosprezarmos o que vemos ao nosso redor. Contudo, sei que se apenas me esforçar para pensar como aquele anjinho cuja visão lhe foi tirada, e olhar para o céu como ela fez, poderei louvar por cada dia que me foi dado nesta terra. Sempre que me sinto tentada a amaldiçoar a escuridão e criticar o que vejo ao meu redor, o sorriso daquela garotinha me vem à lembrança. Penso na fé que ela tem e na visão que ela tem para ver a luz do amanhã, e sei que se ela consegue fazer isso, eu com certeza consigo também.
Victoria Olivetta
Depois de quatro anos e uma viagem de ônibus de 44 horas, eu finalmente estava visitando minha filha e genro, e veria minha netinha, Giovanna, pela primeira vez. Ela conquistou meu coração na hora — tão linda, inteligente e ativa! Os outros avós hão de entender por que digo que minha neta é a menina mais adorável e maravilhosa no mundo! Passei tanto tempo quanto pude com ela, tentando conhecê-la e compreendê-la. Foi impressionante ver como se parece com sua mãe e age como ela quando tinha a mesma idade, mas que, ao mesmo tempo, tem sua própria personalidade e maneira de ser muito bem definidas. Eu tinha colocado muita ênfase na educação de meus filhos e começado cedo, e minha filha e genro começaram entusiasticamente fazendo o mesmo com a Giovanna. Aos 20 meses, a menina já sabe ler algumas palavras, contar até 20, conhece as cores básicas, está começando a aprender as formas geométricas, e memorizou vários versículos simplificados da Bíblia. Ela é muito esperta, mas ainda assim exala a inocência de uma criancinha. Certo dia, ela estava correndo, brincando e sendo um pouco travessa. Num instante, ela foi do seu famoso exercício “letra A” na cama (cabeça e pés firmemente plantados no colchão, bumbum para cima, e braços cruzando o A) ao chão, fazendo um barulhão. Ela parecia surpresa, mas graças a Deus não se machucou seriamente. Sentou-se por um momento com um misto de choque, descrença e vergonha no semblante. Depois de se recuperar e levantar, eu me ofereci para orar com ela, pois tinha certeza que uma queda assim inesperada devia ter doído pelo menos um pouco. Assim que terminei a oração, Giovanna abriu seus grandes olhos castanhos e lá estava aquela faísca inconfundível de sapequice. Soltou as mãos que unira para orar e estava pronta para voltar aos importantes negócios de sua jovem vida: mais pulos e brincadeiras. Alguns dias depois, seu pai precisou viajar por alguns dias e ela sentiu falta dele. Ele formou o hábito de passar diariamente tempo a sós com a filha no mesmo horário, sempre que possível, e foi nessas horas que ela mais sentiu sua falta. Certo dia, minha filha disse a Giovanna que, em vez de ficar chateada, ela deveria orar pelo seu pai, e foi o que as duas fizeram juntas. Imediatamente, o semblante de Giovanna deixou de refletir preocupação e perda para exteriorizar paz e confiança, e ela voltou a ser aquela menininha feliz e brincalhona. Sua fé simples me fez reavaliar a minha própria. É uma coisa orar e confiar que Deus vai atender (afinal, oramos justamente porque esperamos algum tipo de resposta), mas outra coisa é orar e imediatamente deixar de se preocupar com a situação porque verdadeiramente se acredita que a solução já está a caminho. Giovanna realmente acreditava, de modo que conseguiu seguir alegremente com sua vida. Fé infantil David Brandt Berg Vale a pena ser criança. Na verdade, Jesus disse que “Se não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mateus 18:3) e “Deixai vir a Mim as criancinhas, e não as impeçais, pois das tais é o reino de Deus” (Marcos 10:14). As crianças são exemplos dos habitantes do Céu, como anjinhos vindos de lá. Recém-chegadas do Céu, entendem a oração e outros assuntos espirituais melhor que a maioria dos adultos. Falam com Deus e Ele com elas. É simples assim. O problema com muitos adultos é que têm conhecimento demais. Aprenderam tanto que perderam a fé infantil. Mas existem pessoas com uma fé infantil, que confiam, e fazem coisas todos os dias que os intelectuais descrentes afirmam serem impossíveis. Portanto, seja como uma criança, e qualquer coisa maravilhosa poderá acontecer!
Artigo original extraído da revista Contato. Foto © 123rf.com
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