Será que eles ouviriam a angústia na sua voz? Será que reconheceriam tudo que ela passou? Ou será que eles na sua dor iriam vociferar e censurá-la? A história de Peggy tem um final feliz. Seus pais escutaram. Ouviram; sentiram. E a sua reação mostrou que eles compreendiam os seus sentimentos e a aceitaram. Para Peggy isso significou o começo de uma nova vida. Os pais de Peggy não só deram uma nova vontade de viver à sua filha, mas também concentraram a atenção nas oportunidades futuras em vez de nos erros passados dela. Eles foram compreensivos e escutaram - ou seja, escutaram com a pessoa, não só a pessoa ou sobre ela. Ao ser compreensivo e escutar resiste-se à tentação de julgar ou dar conselhos. Ser compreensivo e escutar ajuda a pessoa a esclarecer e comunicar o que sente. Cria um clima de compreensão, evita grandemente que as pessoas fiquem na defensiva, e abre o caminho para mudanças positivas de comportamento. "Eu quero compreender você" Compreender e escutar não é um talento fácil de conseguir. Requer prática. Significa adquirir uma certa destreza verbal. Mais importante ainda, começa com uma atitude de interesse pela pessoa. Quando os pais são compreensivos e escutam, demonstram que querem realmente saber o que os filhos têm a dizer. Não significa necessariamente que concordam com eles. Em vez disso, é uma atitude em que os pais dizem: "Eu quero compreender tudinho - e quero que você saiba que eu compreendo - o que você diz antes de responder". Logo que o pai, ou a mãe, compreende a mensagem, tem a opção de concordar ou discordar. A eficiência do nosso aparelho auditivo talvez nos meta ou nos tire de uma encrenca, mas não estamos falando de ouvir. Escutar é diferente. Escutar é como compreendemos e reagimos ao que ouvimos. Por meio de uma pesquisa extensiva, a companhia Xerox descobriu que a maioria das pessoas de uma maneira geral funciona num nível de eficiência de apenas 25% no que se refere a escutar. Se níveis semelhantemente baixos de atenção forem típicos nas relações familiares, então pode-se associar muitas crises à má percepção do que alguém disse. Geralmente quando os nossos filhos vêm falar conosco nós respondemos com alguma mensagem verbal ou não verbal, mas freqüentemente as mensagens que enviamos não obtêm os resultados que desejamos. Como resultado de sua experiência com cursos de formação para pais, um pesquisador descobriu que mais de 90% das reações de pais para com os seus filhos encaixam em alguma das doze categorias improdutivas: 1. Interrogar 2. Julgar 3. Dar sermões 4. Mandar ou dar ordens 5. Avisar 6. Rotular 7. Solidarizar-se 8. Sondar 9. Pregar 10. Dar recomendações 11. Concordar 12. Retrair-se Estas doze reações freqüentemente colhem resultados indesejáveis, embora sempre haja exceções para esta regra geral. Crianças, pais e situações variam, e não se pode criar um manual para tratar de todos os casos. Entretanto, muitas vezes estas reações não só ilustram o diálogo entre pais e filhos atualmente, mas também são semelhantes às respostas que os "consoladores" de Jó lhe deram há milhares de anos. 1. Interrogar: Bildade responde: "Cale-se e preste atenção, e então poderemos conversar!" (Jó 18:2). Um interrogatório desnecessariamente agressivo assim freqüentemente desencadeia pensamentos e comportamento rebeldes. 2. Julgar: Elifaz responde a Jó: "...mas sim porque cometeu muitos pecados, e as suas maldades não têm conta" (Jó 22:5). Julgamentos assim são comuns mas se os fizermos aos nossos filhos podem gerar um complexo de culpa desproporcional que pode ficar permanentemente incutido em suas personalidades. 3. Dar sermões: Mais uma vez Bildade diz a Jó: "Faça perguntas aos antigos; aprenda com a experiência dos antepassados. Deixe que os antigos falem com você e o ensinem." (Jó 8:8,10). Dar sermões faz com que o ouvinte, já relutante, se sinta inferior, inadequado ou ressentido. A síndrome de "como se fazia antigamente" ilustrada aqui destrói muito a boa comunicação de uma família. 4. Mandar ou dar ordens: Agora Sofar responde: "Por acaso quem fala muito é quem tem razão?" (Jó 11:2). Em outras palavras, "Cale a boca, você só fala besteira!" Se repetido muitas vezes, esta ordem pode destruir o respeito mútuo. 5. Avisar: Bildade avisa Jó: "A vida do perverso se acabará como a luz que se apaga, como as chamas do fogo que deixa de queimar." (Jó 18:5). Um aviso é muito freqüentemente um convite para a criança pôr à prova a convicção de seu pai ou mãe. Você está realmente falando sério? A criança logo vai descobrir. 6. Rotular: Elifaz censura Jó: "Um sábio não responde com palavras ocas. Não fica inchado com opinões que não valem nada." (Jó 15:2) ou seja, "você é um bobo". Você quer destruir rapidamente a imagem que uma criança tem de si? Comece a rotulá-la. 7. Solidarizar-se: Quando os três amigos chegaram onde Jó estava, mostraram a sua solidariedade chorando em voz alta desesperados. Depois: "De longe eles não reconheceram Jó, mas depois, quando viram que era ele, começaram a chorar e a gritar. Em sinal de tristeza rasgaram a suas roupas e jogaram pó para o ar e sobre as suas cabeças." (Jó 2:12). Quando a criança precisa de encorajamento e apoio para dar conta de uma tarefa difícil, a compaixão e emotividade de seu pai ou mãe talvez só sirva para enfraquecer a iniciativa da criança de buscar soluções sozinha. 8. Sondar: Bildade responde maldosamente a Jó, dizendo: "Até quando você, Jó, vai falar assim? Até quando as suas palavras serão como um vento forte?" (Jó 8:1,2). Jó viu facilmente com que intenção essa pergunta foi feita... e muitas crianças também vêem. A pergunta é feita para rebaixá-la em vez de para obter informação. 9. Pregar: Bildade continua do mesmo jeito: "Se você é mesmo puro e honesto, Deus virá logo ajudá-lo e lhe dará de novo o lar que você merece." (Jó 8:6). Os próprios pais são muito suscetíveis a este tipo de lógica falsa de amigos bem intencionados que criticam injustamente as atividades dos filhos dos outros. O resultado é que freqüentemente deixa os pais com um sentimento de culpa injustificado. "Não julgues" é um lema valioso que todos nós deveríamos seguir. 10. Dar recomendações: Elifaz começa sua hipótese dizendo: "Você não dava água para a pessoas cansadas nem comida aos que tinham fome. Você usou a sua posição e o seu poder para se tornar o dono da terra." (Jó 22:7-9). E prossegue dando conselhos do tipo "é assim que você deve fazer". Falar tais coisas dá a entender que Jó tinha feito tudo errado. Freqüentemente as crianças, assim como os adultos, reagem a tais recomendações na defensiva. Por isso as recomendações deveriam ser dadas cuidadosamente com uma dosagem controlada. 11. Concordar: Elifaz concorda com a auto-avaliação de Jó e diz: "Mas agora... chegou a sua vez de sofrer" (Jó 4:5). É claro que a empatia é um fator essencial no relacionamento entre pais e filhos, mas às vezes as crianças acham, da mesma forma que Jó deve ter achado nessa ocasião, que o fato de concordar as manipula - uma maneira diferente dos pais conseguirem o que querem. 12. Retrair-se: Mesmo quando ficaram calados, os amigos não ajudaram muito Jó, como está indicado: "Em seguida sentaram-se no chão ao lado dele e ficaram ali sete dias e seite noites; e não disseram nada, pois viam que Jó estava sofrendo muito." (Jó 2:13). O silêncio tem o seu lugar, mas a criança pode interpretar essa retração como desinteresse ou rejeição. Compreender e escutar é outra maneira de responder a uma mensagem. Freqüentemente é mais eficaz do que as doze abordagens típicas, porque envolve diretamente aquele que a dá com aquele que a recebe. Isso ajuda os pais a tomarem conhecimento e a compreenderem os sentimentos e as necessidades da criança. O método de compreender e escutar pode ser entendido melhor se prestarmos atenção à conversa. "Por que é que eu tenho que lavar a louça? Jim nunca faz nada!" Pode-se responder a esta afirmação de várias maneiras. Julgar: "Não dê uma de espertinha. Isso não é verdade, e você sabe muito bem". Mandar ou dar ordens: "Não complique a minha vida, só faça o que eu mandei". Avisar: "Pare de falar assim, senão vai ficar de castigo a semana inteira". Rotular: "Quando você fala assim parece uma fedelha mimada". Solidarizar-se: "Quando você terminar, vai se sentir bem com o seu trabalho". Compreensão: (O pai ou mãe procura a necessidade e o sentimento enterrados nas palavras.) "Você está chateada porque tem mais para fazer do que Jim". Em vez de reagir com um sermão ou uma ordem, quando os pais compreendem e escutam eles desenvolvem uma mensagem enfocando as necessidades da criança. Uma resposta assim pode muito bem abrir a porta para o diálogo e construirá uma ponte de boa comunicação entre pais e filhos. Filha: "Por que é que eu tenho que lavar a louça? Jim nunca faz nada". Pai: "Você está chateada porque tem mais para fazer do que Jim". Filha: "É, principalmente porque eu lavei a louça quase todas as noites esta semana". Pai: "Esta semana ninguém ajudou você a lavar a louça?" Filha: "Bem, Jim lavou um pouco ontem, mas esta noite tenho que estudar com Mary". Pai: "Você tem mesmo que estudar com Mary esta noite?" Filha: "Tenho. Amanhã temos uma prova. Vou pedir ao Jim para me ajudar a lavar a louça, e depois eu o ajudo a fazer as lições de matemática". O verdadeiro problema nem sempre vem à tona com tanta rapidez ou tanta facilidade como neste diálogo, mas os ingredientes essenciais estão presentes. Repare que cada resposta dada pelo pai tem o pronome você. O pai demonstra interesse pelos sentimentos da filha, mas o que é igualmente importante, não oferece uma solução. Em vez disso oferece uma oportunidade de ela mesma encontrar uma solução para o problema. Esta lista de dicas para compreender e escutar talvez ajude a melhorar o seu índice de êxito: 1. Escolha cuidadosamente o momento para compreender e escutar. Às vezes as crianças só precisam de informação quando fazem uma pergunta. Responder com compreensão às vezes só as deixam confusas. 2. Escute o sentimento bem como o conteúdo de cada mensagem. 3. Varie a maneira como demonstra compreensão. Nem sempre responda: "Você está dizendo que..." 4. Esteja atento às pistas tanto verbais como não verbais. 5. Evite abrir a porta para comunicar com os seus filhos e depois fechá-la quando não gosta do que ouve. 6. Reflita um sentimento caloroso de empatia pela essência da mensagem. 7. Não tente continuar a "escutar" quando a criança já terminou de enviar mensagens há muito tempo. Escutar é uma maneira de dar um passo a mais num relacionamento, e uma maneira tangível de cumprir o mandamento de nos amarmos uns aos outros. Eu posso mostrar que me importo escutando. Amar é importar-se o bastante para escutar. "Aquele que tem ouvidos" A importância de desenvolver a capacidade de escutar é diretamente confirmada por Tiago, um homem que conhecia Jesus muito bem: "Todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar...." (Tiago 1:19). Os dois concisos mandamentos no início deste versículo condizem muito bem. Quando tomamos tempo para compreender e escutar - e evitamos o erro de responder com declarações autoritárias - as mensagens que recebemos dos nossos filhos têm por sua vez muito menos probabilidade de serem antipaticamente defensivas. Isto por sua vez reduz a tensão e pode muito bem nos ajudar a evitar uma altercação zangada. Duas maneiras de lidar com a mesma situação demonstram a idéia. Adolescente (nas férias de verão, depois do vestibular): "Não vou para a universidade em março. Vou arrumar emprego num armazém". Pai (irado): "Depois de tudo que eu fiz por você!?" Adolescente: "Eu não preciso da sua ajuda. Me deixa em paz". Vamos começar de novo, demonstrando compreensão e escutando o que o outro tem a dizer. Vamos ver como o mandamento de Tiago para escutar ajuda a não nos irarmos imediatamente, como ele admoestou. Adolescente: "Não vou para a universidade em março. Vou arrumar um emprego num armazém". Pai: "Você não está com vontade de continuar os estudos". Adolescente: "Sou o mais novo da minha turma. Se trabalhar durante um semestre, tenho uma melhor chance de me sair bem na universidade daqui a um ano". Agora a situação pode ser resolvida sem conflito. Tiago nos deu padrões de comportamento que coincidem com o mandamento que o nosso Senhor nos deu muitas vezes: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça". (Mateus 13:43) Extraído do livro " Pais Confiantes", pelo Dr. Bob Pedrick. Foto: Bindaas Madhavi/Flickr.
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